Beber café te faz viver mais?

12/08/2021 17:43

O café é uma das bebidas mais consumidas em todo o mundo e faz parte do dia a dia de milhões de brasileiros (principalmente dos estudantes de medicina em vésperas de prova!). Mas você já parou para pensar se existe alguma correlação entre beber café e risco de morte? Foi essa a pergunta que um grupo de pesquisadores americanos buscaram responder em um estudo publicado em 2012 no New England Journal of Medicine. Para tanto, foi realizada a análise dos dados de um grande estudo envolvendo indicadores de saúde da população americana aposentada no qual os participantes respondiam um questionário sobre seus hábitos alimentares e estilo de vida. Desse modo, foram analisados durante os 13 anos de seguimento do estudo 404.260 participantes (229.119 homens e 173.141 mulheres) que atendiam aos critérios de inclusão (resposta satisfatória ao questionário) e exclusão (ausência de dados importantes sobre indicadores de saúde como câncer, doença cardiovascular ou sobre hábitos alimentares), em uma análise prospectiva e observacional. Ao final do seguimento, foram reportadas 52.515 mortes e as análises estatísticas foram realizadas por meio do modelo de regressão de risco-proporcional de Cox, com análises multivariadas ajustadas para indicadores de saúde como idade, IMC, tabagismo, etilismo e para outros índices dietéticos como o consumo de frutas, vegetais, gordura e proteínas. A partir disso, os pesquisadores chegaram à (impressionante) relação dose-dependente entre consumo de café e redução de mortalidade por todas as causas. Segundo os resultados do estudo, quando comparado ao grupo que não consome café, o consumo de 4 a 5 xícaras diárias de café reduz mortalidade com um hazard ratio de 0,84 (0,79 – 0,90) para mulheres e 0,88 (0,84 – 0,93) para homens ambos com p<0,001. Então a solução para os nossos problemas é consumir mais e mais café? Não é tão simples assim... Muito embora seja um estudo prospectivo, com um grande número amostral e analise um desfecho duro (morte por todas as causas), trata-se de um estudo sujeito a várias limitações e vieses que devem ser considerados na interpretação dos dados. Vale destacar que a correlação estatisticamente significativa e dose-dependente entre o consumo de café e mortalidade não são, por si só, fatores suficientes para se estabelecer uma relação de causalidade entre as variáveis analisadas. Além disso, alguns vieses de confusão, de mensuração e de memória devem ser considerados para uma análise mais crítica dos resultados apresentados, tendo em vista se tratar de um estudo observacional baseado em relatórios autorreferidos. Apesar disso, o café continuará fazendo parte da vida de milhares de pessoas (incluindo este autor, que escreve esse texto enquanto toma uma boa xícara de café) e continuará a ajudar estudantes de medicina a se manterem afiados durante sua jornada de estudos.

Link para o artigo completo: https://www.nejm.org/doi/full/10.1056/NEJMoa1112010

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