Quais são os efeitos da dapagliflozina em pacientes com DRC?

10/10/2020 13:30

Apresentado no Congresso da Sociedade Europeia de Cardiologia (ESC Congress 2020), o DAPA-CKD Trial foi publicado no New England Journal of Medicine no final de setembro e configura-se como um ensaio clínico randomizado e controlado por placebo, cujo objetivo foi o de avaliar a eficácia e segurança de 10mg de dapagliflozina (inibidor de SGLT2) em pacientes com doença renal crônica com ou sem diabetes tipo 2, e em pacientes recebendo cuidado padrão com dose máxima tolerada de inibidor da ECA ou BRA. Eram elegíveis pacientes acima de 18 anos, com TFG de 25 a 75 mL/min/1.73m² e relação albumina-creatinina na urina entre 200 e 5000 mg/g, além de que todos os participantes deveriam receber uma dose estável de um inibidor da ECA ou BRA por pelo menos 4 semanas antes da triagem. Os pacientes não eram elegíveis se tivessem diabetes tipo 1, doença renal policística, nefrite lúpica, vasculite associada ao ANCA, além de uso de terapia imunossupressora para doença renal primária ou secundária em até 6 meses antes da inscrição no estudo. O desfecho primário era um composto de declínio de 50% ou mais na taxa de filtração glomerular, progressão para doença renal terminal ou morte de causa cardiovascular ou renal. Para a avaliação dos dados, foi definida análise por intenção de tratar; 681 eventos de desfecho primário seriam necessários para detectar 22% de redução do risco relativo no grupo intervenção, com 90% de poder estatístico.

Um total de 7.517 participantes foram selecionados, dos quais 4.304 foram submetidos à randomização; 99,7% dos pacientes completaram o estudo. As características basais, incluindo medicamentos para diabetes tipo 2 e doença renal, foram balanceadas entre os grupos. A média de idade foi de 61,8 (± 12,1 anos) e 1425 participantes (33,1%) eram do sexo feminino. A TFG média estimada foi de 43,1 (± 12,4), a relação albumina-creatinina urinária foi de 949 e 2.906 participantes (67,5%) receberam um diagnóstico de diabetes tipo 2. Depois de revisão regular, o estudo foi interrompido por haver eficácia clara, com base em 408 eventos de desfecho primário. Após follow-up médio de 2.4 anos, um evento de desfecho primário ocorreu em 197 pacientes no grupo da dapagliflozina (9,2%) e em 312 no grupo placebo (14,5%), havendo redução do desfecho primário de 39% (IC 0.51-0.72; p<0.001;  NNT 19). Para o desfecho secundário de declínio sustentado na TFG de pelo menos 50%, doença renal em estágio final ou morte por causas renais, a redução foi de 44% (IC 0.45-0.68; p<0.001); quanto ao composto de morte cardiovascular ou hospitalização por insuficiência cardíaca, redução de 29% (IC 0.55-0.92; p = 0,009); relativamente ao desfecho de mortalidade por todas as causas, redução de 31% (IC 0.53-0.88; p = 0,004). O conhecido perfil de segurança da dapagliflozina foi confirmado. Com baixo risco de viés - mesmo com interrupção por análise interina não especificada em protocolo (porém com número importante de eventos, havendo pequena superestima) - e com benefício clinicamente significativo (NNT = 19), dapagliflozina reduziu significativamente os desfechos em relação ao placebo, entre  pacientes com doença renal crônica, independentemente da presença ou ausência de diabetes tipo 2.

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